A Sonangol aplicou cerca de 51,5 mil milhões de kwanzas no projecto da fábrica de fertilizantes da Amufert, uma iniciativa do Grupo Opaia, segundo o relatório e contas da petrolífera referente ao exercício económico de 2024. O montante surge classificado como “suprimentos cedidos a favor da participada”, e representa um dos investimentos mais significativos da empresa em empreendimentos fora do seu core business nos últimos anos.
De acordo com fonte próximas, a operação foi inicialmente apresentada ao público como uma “pequena garantia” do Estado, aquando da assinatura, em 2024, do contrato de financiamento entre a Amufert e o Afreximbank. Nessa ocasião, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleos e Gás, Diamantino de Azevedo, limitou-se a afirmar que o Executivo havia dado apenas um impulso para gerar confiança no projecto.
“Para entusiasmar, dar confiança e motivar este projecto, incentivámos a Sonangol e o Grupo Opaia a unirem-se na Amufert. Foi aprovado um contrato para fornecimento de gás a um preço específico. O Governo deu uma pequena garantia para que este projecto pudesse beneficiar dessas condições”, disse o ministro, sem detalhar valores.
Contudo, o relatório financeiro da Sonangol mostra uma realidade diferente. Ainda, segundo o apurado, a quantia agora revelada remete para práticas do passado, em que a petrolífera estatal investiu avultadas somas em projectos de iniciativa privada — vários dos quais acabaram envolvidos em processos judiciais desde 2017, por suspeitas de gestão danosa ou favorecimento indevido.
A fábrica da Amufert, sediada em Luanda, insere-se num plano mais amplo de estímulo à produção de fertilizantes em Angola, um sector considerado estratégico para reduzir as importações e fortalecer a segurança alimentar. No entanto, a transparência e o modelo de financiamento voltam a levantar questões, sobretudo num contexto de maior escrutínio sobre a gestão dos fundos públicos.
Francisco Soque | Redactor
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