O fundador do Banco BIC, Fernando Teles, diz que o banco está a ser "ostracizado pelo poder". A revelação foi feita durante um discurso que se tornou viral nas redes sociais, depois de ter sido gravado numa festa interna da instituição. O banqueiro garante que apenas partilhou preocupações com os trabalhadores e que não esperava que a gravação se tornasse pública.
Fernando Teles conta que tem 59 anos de carreira no sector bancário e que fundou dois bancos em Angola: o antigo Banco de Fomento Exterior (hoje BFA) e o actual Banco BIC. Apesar de já não ser administrador, afirma acompanhar de perto a vida do banco e participar nas decisões importantes, enquanto assessor da Comissão Executiva.
O banqueiro diz-se preocupado com o rumo que o banco tem tomado, apesar de estar bem capitalizado. Explica que o BIC tem sido impedido de aceder ao mercado de divisas durante três meses consecutivos — de Janeiro a Março —, o que prejudica directamente as suas operações. "Não é possível que um banco com mais de duas mil pessoas, líder em crédito à economia, não consiga comprar um dólar", lamenta.
Teles aponta o dedo a decisões tomadas pelo Ministério das Finanças e pelo Banco Nacional de Angola. Revela que, nesse período, o BIC não teve acesso a nenhuma das operações cambiais no mercado primário, onde foram vendidos quase 600 milhões de dólares. Segundo ele, esse tipo de bloqueio pode "destruir" o banco.
Questionado sobre se isso se deve à presença de Isabel dos Santos como sócia do banco, com 42,5% das acções, responde que já ouviu essa explicação dentro de instituições públicas. Porém, considera que seria injusto penalizar o banco por isso, dado o papel que tem tido na economia nacional.
O banqueiro confirma que Isabel dos Santos participa normalmente nas Assembleias Gerais do banco e que, em 20 anos, só votou contra ele uma ou duas vezes.
Para Fernando Teles, o Estado também não tem cumprido compromissos assumidos com a banca. "Desde 2019 que o BIC não recebe as bonificações do Angola Invest. Estamos a ser atacados", desabafa. Sem dar muitos detalhes, diz ainda haver uma situação "mais grave", que preferiu não revelar.
Francisco Soque | Redactor
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