20-05-2025
Economia

Produção nacional estagnada obriga Angola a importar 41 vezes mais do que exporta no PRODESI
As exportações de mercadorias no âmbito do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI) caíram 53% no primeiro trimestre de 2025, fixando-se em apenas 15,3 milhões de dólares norte-americanos. Por outro lado, as importações ligadas ao mesmo programa cresceram 18% no mesmo período, atingindo os 631,1 milhões USD, segundo dados da Administração Geral Tributária (AGT) compilados pelo jornal Expansão.
Este desequilíbrio evidencia as fragilidades estruturais da produção nacional, sete anos após o lançamento do PRODESI. A título de exemplo, Angola continua a importar milho em grande escala, apesar dos fortes financiamentos dirigidos à produção interna através de crédito bancário forçado. Entre Janeiro e Março, o país gastou 53 milhões USD na aquisição de 127 mil toneladas de milho, o que revela a ineficácia dos incentivos à produção local.
Grão de trigo, arroz e carne de frango lideraram a lista dos produtos mais importados no trimestre, com valores de 111,1 milhões, 111 milhões e 75,7 milhões USD, respectivamente. As importações de medicamentos também subiram consideravelmente, atingindo 68,5 milhões USD — mais 71,3% do que no mesmo período de 2023.
Do lado das exportações, o cenário é preocupante. Dos 15,3 milhões USD exportados no âmbito do PRODESI, metade correspondeu apenas à venda de varão de aço (7,6 milhões). Seguem-se o leite (1,7 milhões USD), massas alimentícias (1,2 milhões) e a banana como destaque na produção agrícola, com cerca de 1,1 milhões USD por 318,7 mil toneladas.
Enquanto o discurso oficial insiste na proibição de importar proteína animal e farinha de trigo para "proteger" a produção nacional, os dados mostram que a oferta interna continua longe de satisfazer as necessidades do mercado. Empresários da área da distribuição afirmam que estas medidas são, na verdade, uma forma de proteger os interesses de uma minoria, prejudicando o acesso da maioria da população a produtos básicos.
"Estas medidas anunciadas nos últimos dias em nada contribuem para a segurança alimentar dos angolanos. As famílias há muito deixaram de fazer opções para a sua alimentação. Os angolanos hoje compram o necessário para se alimentarem", afirmou uma fonte empresarial ao Expansão.
A burocracia nas exportações é outro entrave significativo. Uma licença para exportar pode demorar vários meses, o que desincentiva o comércio externo e empurra os empresários para a via mais simples: importar. Ainda assim, as dificuldades em aceder à moeda estrangeira, agravadas pela desvalorização do Kwanza, continuam a limitar a dinâmica comercial.
Como consequência, muitos produtos são importados, reembalados e vendidos como se fossem de produção nacional, a preços ainda mais elevados do que os produtos finais estrangeiros. Este panorama reforça a percepção de que o PRODESI, apesar dos seus objectivos, continua sem alcançar resultados concretos no fortalecimento da economia real.
Francisco Soque | Redactor
Foto: DR
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